domingo, 7 de julho de 2013

Pega a Solidão e Dança

  Imagine você sentado ao meio de cartas e fotos, amores que se foram divididos entre os que ficaram, procurando explicações para todos os desajustes que trombaram com a mania insistente de acreditar que as coisas não passam. Então se vê rodeado de silêncio, enquanto queria estar conversando, com aquela pessoa da foto que está fazendo pose em um dia bonito, sobre o famoso tempo que (in)felizmente não volta mais, ou no meio de tanta gente que hoje só se tornou mais um rosto conhecido aperfeiçoado por anos que passaram delicadamente com pressa.
   Agora componha a cena em um novo dia: Sua cama provavelmente estava maior do que de costume e sua janela parecia ter se encolhido, já que o sol não queria entrar e iluminar seus passos da cama ao banheiro, te dizendo que hoje não está bom para se levantar; Não quer trocar palavras amigáveis, não quer ter gestos cordiais e nem arrumar o cabelo despenteado e maquiar o rosto com  olheiras grotescas; Se empenha na verdade em isolar sua solidão com músicas confortantes que vão auxiliar a sua limpeza cerebral: Ordena todos os seus pensamentos, enumera os que de fato são importantes e se convence sobre o monte de bobeiras que vem azucrinando essa cabeça. Ausência, produtiva ao final do dia.
   A gente tem uma mania impressionante de temer ficar sozinho; Solidão, falta de algo, carência de alguém e estado ausente são palavras que assustam sem nem ter complemento na frase. No significado bruto todas elas parecem atormentar quem não achou a companhia para tomar alguma coisa gelada no bar da esquina, quem não recebeu o abraço que o corpo pedia ou teve que assistir sozinho um filme cujas entrelinhas pediam um bom braço para se apertar. Assusta quem se vê deitado encarando o teto, sentindo como tudo está vazio e só estaria preenchido se quem faz seu coração acelerar repentinamente ligasse convidando para aparecer na janela porque estava ali, para te ver; Mas que má sorte.
  Nos acostumamos a fugir sem perceber que a solidão se delicia ao por a prova sabores que nos intrigam como aos experimentadores de vinhos de safras consagradas: Consegue adocicar quando você vasculha suas emoções e necessita organizar, sem recomendações amigas ou  telefonemas. A sua falta sentida em outros lugares, enquanto está modestamente recolhido a você mesmo tentando encontrar explicações que procurava há dias, mas sua necessidade de escutar razões de outros corações e lições de bibliografias alheias, menos a sua, não te deixaram entender. A questão é que não podemos esquecer que tudo nessa vida possuí um outro lado da moeda; ausência também consegue amargar quem sente falta do que sabe que nunca mais volta, entristece aquele que se iludiu e caiu, que achava ter encontrado o ponto de partida e se viu sozinho com seu coração partido em um mundo que não se importava. Uma verdadeira cilada.
  Incontestável: Ser humano não nasceu (ainda bem) pra viver sem alguém, e a costela de Adão talvez seja a melhor prova disso. Mas a ausência de todo o resto de repente, em um dia que o mundo não quis ser gentil como você queria que fosse, parece ser a solução para quem precisa se achar. Surpreendentemente, alguns detalhes farão sentido para reescrever com caligrafia nova um de seus extraordinários rascunhos sobre a maneira singular que encontrou para viver. 
Afinal, já diria Marcelo Camelo: "Se você ficar sozinho, pega a solidão e dança".

Um comentário:

Anônimo disse...

eu quero curtir mil vezes, *o* pega a solidão e dança, ou saia dançando com todo mundo que esteja por perto, quem sabe você não encontra seu pé de valso né não ? ;) lindo arira